Tia Sônia: Como Uma Receita de Mãe Conquistou o Brasil

Foi de uma viagem para Machu Picchu, envolvendo muito amor de mãe, que nasceu a Tia Sônia, maior marca de cereais matinais do Nordeste e terceira maior do País: quando Marcos decidiu fazer uma longa trilha com destino à cidade sagrada dos Incas, em 1995, dona Sônia ficou preocupada com a alimentação do caçula e preparou 6 kg de granola.

Como a mãe exagerou um pouquinho, Marcos distribuiu metade para os amigos e levou outra parte na mochila. A granola foi sucesso absoluto no Peru e na vizinhança, em Vitória da Conquista (BA). “Os gringos com quem fiz a trilha adoraram e, quando eu voltei, meus amigos também estavam enlouquecidos, querendo mais granola. Mas eu desconversava: ‘calma, minha mãe demora para fazer, dá muito trabalho’”, recorda Marcos.

Foi quando um dos amigos insistiu e deu a ideia de ele vender a granola que uma luz se acendeu na cabeça de Marcos. Até então, ele era um jovem engenheiro agrônomo que havia tentado ser agricultor e feirante, e que sonhava em empreender com propósito, mas sem conquistar o que desejava. “Eu já era formado, mas minha rotina era comprar frutas da fazenda onde trabalhava para botar na barraca de feira. Peguei R$ 40 emprestados com a minha mãe para comprar os ingredientes e juntos fizemos a primeira batelada de 15 kg de granola na cozinha de casa”, relembra Marcos, como se fosse ontem. Embalada em saquinhos plásticos de 200 gramas, a granola fez sucesso entre amigos e conhecidos.

Nascia ali a Tia Sônia e a carreira de empreendedor de Marcos Fenício Dias, CEO da empresa e que prevê faturar R$ 110 milhões em 2023. O sucesso da granola Tia Sônia foi quase instantâneo. Três anos após a viagem para Machu Picchu, Marcos deixava a cozinha de casa e inaugurava uma fábrica própria da empresa, hoje uma importante empregadora em Vitória da Conquista, a pouco mais de 500 km de distância de Salvador. A receptividade do mercado também abriu novas frentes de atuação. A granola sempre foi o carro-chefe, mas aos poucos o portfólio da companhia aumentou para mais de 80 produtos, incluindo alimentos integrais, cookies, barrinhas de cerais e até bebidas funcionais.

IMPACTOS POSITIVOS

Mais que um negócio rentável, a Tia Sônia deu a Marcos a oportunidade de transformar seu entorno, algo que ele buscava desde jovem. “Eu não queria ganhar dinheiro, eu queria ser agricultor. Eu achava que o dinheiro não era o caminho para a transformação da sociedade”, conta, relembrando seu período “hippie”. “Até que eu saí de um cara alternativo, que buscava uma mudança por meio da agricultura, e me tornei um empresário. ” Com a Tia Sônia Marcos pôde dar vazão a essa vontade de fazer a diferença. “Existe na nossa empresa um valor do fundador muito forte de humanização, de cuidar dos outros, de propósito, de devolver alguma coisa para o mundo”, responde.

Hoje, a companhia investe em ESG e está associada ao Capitalismo Consciente e ao Sistema B, plataformas que catalisam a construção de um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo. Esse cuidado envolve colaboradores, que têm aulas de português, matemática, inglês, Excel e até corte de cabelo e manicure gratuitos dentro da empresa. Fornecedores de matérias-primas também são valorizados e recebem remuneração acima do valor de mercado. Por fim, a Tia Sônia é mantenedora da Associação das Alegrias, ONG focada em educação, alfabetização de crianças e adultos, assistência odontológica e atividades artísticas, culturais e esportivas no município de Barra do Choça, a 30km de Vitória da Conquista.

“O cuidado que a gente tem com as pessoas nos retorna na forma de reconhecimento e no carinho que as pessoas têm com a nossa marca”, enfatiza Marcos. “Nossa forma de fabricação se profissionalizou e ganhou escala, mas traz os mesmos valores e o mesmo cuidado de lá atrás. A gente acredita que faz um produto que tem história, que tem cuidado, que tem detalhe. E é isso que as pessoas buscam.”

CRESCIMENTO

Seguindo essa filosofia, a Tia Sônia deu um salto. Nos últimos dois anos a empresa pulou do quinto para o terceiro lugar em volume de vendas no País, tendo a sua frente concorrentes nacionais. Já a companhia baiana concentra suas vendas no Nordeste e avança no Sudeste.

A Tia Sônia já é a segunda marca mais vendida em Minas Gerais, Espírito Santo e no interior do Rio de Janeiro e abriu recentemente uma filial para distribuição em São Paulo. “A gente vem com um crescimento muito robusto, de mais de dois dígitos. Devemos dobrar de tamanho nos próximos quatro anos”, projeta Marcos.

No meio dessa trajetória ascendente, um grande baque foi o falecimento de Dona Sônia, aos 82 anos de idade, em abril de 2022. Até os últimos anos de vida, ela circulava na fábrica atenta a todos os detalhes. “Minha mãe tinha um tesão de viver muito grande e viveu até o momento final com alegria. O legado que ela deixou para a gente, para os filhos e para todo mundo, é de brilho nos olhos”, comenta Marcos. “Ela deve estar muito orgulhosa do que a gente está fazendo, do que a gente entrega, do nosso cuidado com os nossos produtos e com as pessoas.” Com pouco mais de 25 anos de história, a Alimentos Tia Sônia ainda tem muitos planos pela frente.

“Temos capacidade e fôlego para crescer organicamente por um bom tempo. Sou filho de comerciante, não crio uma empresa para vender”, conta Marcos, resistindo a possíveis ofertas pela marca. “Não vou colocar o carro na frente dos bois. Venho preparando a nossa empresa para o mercado e quero que ela seja uma das melhores do País. Que a Tia Sônia seja uma empresa muito boa e que eu seja um bom executivo.”